Opinião – Nossos filhos perderão suas infâncias para a tecnologia?

outubro 20, 2013 em Futuro!, Opinião, Sociedade, Tecnologia por Daniel Arquimedes

Share Button

Nossos filhos perderão suas infâncias para a tecnologia, crianças com computador, capa

Por mais determinista que isso pareça, importantes traços de nossa vida são, sim, traçados de acordo com o ambiente onde nascemos e crescemos. E o impacto da tecnologia ao redor de uma criança é tão importante quanto as atitudes dos pais na criação. É uma afirmação que pode gerar alguma discordância e polêmica, mas não é preciso ser nenhum psicologo infantil para atestar a veracidade desse fato. Veja: em certo momento da história a escrita foi inserida na sociedade como algo indispensável, tornando-se preciso que durante a infância fosse aprendido utilizar tal ferramenta. Isso aconteceu de tal forma que hoje, o crescimento, formação pessoal e intelectual de um individuo é intimamente ligado ao aprender ler e escrever. E podemos dizer que a tecnologia (computação/eletrônica), se já não é, será na próxima geração tão importante quanto a escrita. Por que é necessário aprender a ler e a escrever? Pois somos cercados pela escrita e todos a usam para importantes fins. Não é assim com a tecnologia?

OK, os computadores estarão intimamente ligados à vida das pessoas, e daí? Desde sempre a tecnologia serviu à humanidade como ponte para a independência . Com o fogão não dependíamos mais da lenha de uma fogueira, coma geladeira não dependíamos mais de salgar alimentos para conserva-los, com as televisões e jornais já não precisávamos mais do boca-a-boca para nos manter informados. E agora, com a rápida comunicação dos computadores estamos nos tornando independentes da real interação social e do “mundo lá fora”. E isso é gravíssimo! Já é consenso que o contato e a proximidade (nisso incluindo presença e inclusive contato físico) são indispensáveis na estruturação de vários e importantíssimos fatores em uma pessoa, incluindo o sendo de compaixão (dó?), companheirismo e até sexualidade, entre outros. E nisso nem estou trazendo à discussão fatores como o impacto da tecnologia à saúde infantil e o “pulo de etapas” devido à quantidade massiva de informação na rede. Muito da infância pode ser perdido! E, como dito anteriormente, a dependência da tecnologia possivelmente será enorme, implicando na grande acentuação desses efeitos negativos.

Mas talvez a própria tecnologia coloque as coisas nos seus eixos. Gosto de acreditar no que chamo de “racionalização da tecnologia”. Calma! Não falo de robôs pensantes, mas sim de tecnologia mais bem pensada. Digamos que o rumo natural é que as coisas passem por “bug-fixes“, correção de erros e por “updates“, melhoras que adaptem cada vez mais a tecnologia ao nosso uso. Por exemplo, tenho certeza que nas próximas gerações teremos algo parecido com o “controle de pais” do Windows, porém muito mais sofisticado, que se tornará tão natural, usado, entendido e respeitado quanto a frase “Nada de doce antes do almoço, mocinho!”, dita pelos pais.

E ainda há a possibilidade da sociedade por a tecnologia em seu lugar. Veja bem: muitos problemas que os pais tem hoje com a relação filhos-tecnologia é devido ao fato de que os mais novos nasceram nesse novo mundo enquanto os mais velhos se depararam com ele à pouco tempo e não estão acostumados à rápida aprendizagem e adaptação tecnológica que o veloz fluxo de informações na internet proporciona. Porém, na próxima geração, a tecnologia estará “na veia” (talvez até não figuradamente) e pais e filhos desenvolverão uma relação harmoniosa com a tecnologia e dessa vez com os pais sabendo como agir.

E se nenhuma dessas reparações acontecerem? E se a tecnologia se tornar a “doença da nova geração”? Como agiremos?

Com certeza teremos que reagir, mesmo com grande peso e dificuldade. A responsabilidade cairá sobre nós, futuros pais. Mais do que nunca as crianças precisarão dos adultos. Não como simples conselheiros e “concededores de permissões”, mas teremos que ser amigos e líderes para que eles tenham o passaporte para sair do mundo onde sua era reside e para que venham à Terra viver suas infâncias. Como nunca foi antes, será preciso ensinar a apreciar um banho de chuva. Como nunca, será tão emergencial uma ida ao parque. Como nunca foi, será preciso apreciar a boa culinária dos bolinhos de lama. Será difícil com certeza, mas teremos que ensinar nossos filhos a negar o determinismo de seu tempo histórico e introduzi-los à arte de viver a vida.

The following two tabs change content below.
Lorde da cafeína e estudante da Academia de Magia de Escrita e Mídia. Consultor intelectual e motivacional da guilda. Ultimamente tem estudado bastante magia de cura pra tentar fazer com que esse site não acabe na merda.

Latest posts by Daniel Arquimedes (see all)