Ler um livro por/para estar na moda. Sério?
agosto 14, 2013 em 42, Artigos e Notícias, Literatura, Livros, Opinião por Luiz Fernando Teodosio
Livros cativam seus respectivos leitores de forma muito particular. As breves linhas de uma sinopse são sedutoras, arrancam suspiros e provocam frases como “Hm, interessante.” Uma capa deslumbrante capaz de atrair um olhar fixo por alguns segundos tem o poder de escancarar a boca por onde um “Uau!” é proferido. O primeiro capítulo, as primeiras páginas, o primeiro parágrafo ou quem sabe até as primeiras linhas degustadas são indicadores que convencem o leitor. Deixando os aspectos do livro de lado, a opinião de um amigo leitor que corre até você dizendo “cara, esse livro é f***” também acaba se tornando um motivo, mesmo que seja apenas para seu amigo parar de encher o seu saco. As resenhas literárias também influenciam bastante a imagem de um livro, e, quando bem escritas, provavelmente tornam-se os melhores guias para o leitor. Às vezes, um fórum de discussão nas redes sociais ou simplesmente uma conversa em grupo em torno de uma obra podem elevar sua curiosidade em lê-la. Mas, e quando determinado livro é alvejado pelas luzes da moda, tornando-se um best-seller, valeria a pena mergulhar nessa leitura tão recorrente no mercado?
É nesse ponto que alguns leitores acabam perdendo totalmente sua personalidade, viram meras peças, consumidores de um sistema que necessita deles para se manter aquecido. Apesar do objeto livro ser um produto, ele não é como aquele vestuário que se usa apenas para mostrar aos outros que você está na moda. Só porque todos estão lendo o livro x, não significa dizer que você também deve lê-lo apenas para dizer que leu e, dessa forma, sentir-se incluído numa discussão em torno do livro x. Se esse título não te fisgou, simplesmente não o leia, e você nem precisará se preocupar com spoilers. Agora, se estiver interessado no livro x, mas possui outras leituras para colocar um dia, escolha entre colocá-lo como alta prioridade na sua lista ou aguente a chuva de spoilers. O autor desse texto está até hoje enrolando a leitura de As Crônicas de Gelo e Fogo. Felizmente, sei muito pouco sobre a série, e, em se tratando da obra de George Martin, um spoiler da morte de uma personagem é irrelevante.
A massiva publicidade em torno de uma obra encobre as demais, tornando-as quase inexistentes aos leitores que, dentro de uma livraria, por exemplo, contornam apenas a seção dos livros em destaque como se eles fossem os melhores (quando, na verdade, são apenas os mais vendidos ou apostas de serem os mais vendidos pelas editoras). Não estou querendo dizer que se deve cessar a leitura dos best-sellers, pois eu mesmo os leio, mas apenas quando me cativam. “Ah, mas vai passar a adaptação do livro no cinema. Eu preciso ler!” Então leia! Se você está interessado no filme, significa que o enredo o cativou a ponto de querer folhear o romance. Caso contrário, contente-se apenas com a versão cinematográfica (como farei em relação a Percy Jackson e o Mar de Monstros). Contudo, a depender de seu ritmo de leitura, talvez não seja uma opção acertada procurar o romance de todo o filme baseado em obra literária que passa no cinema, afinal, há mais de uma dúzia sendo lançadas a cada ano, e você, como bom leitor, certamente possui sua lista de livros para ler.
Isso tudo quase lembra aquelas pessoas que usam camisas de super heróis sem nem ao menos conseguir citar três vilões dos mesmos, ou então a estampa de uma banda de rock sem saberem cantar uma de suas músicas. Tudo vira uma simples “marca” a ser exibida para o mundo, popularizando o que quer que seja, mas, ao mesmo tempo, diminuindo o seu significado, uma vez que as pessoas não são exatamente fãs querendo demonstrar sua paixão aos outros (falou o cara que usa bottons de Fairy Tail, Final Fantasy VII, Harry Potter, Death Note, Resident Evil, Laranja Mecânica na mochila; tirando o primeiro e o último, sou fã inveterado do restante).
Aproveito também para alfinetar o outro lado da moeda. Temos as pessoas que sofrem de um problema semelhante aos usuários do facebook que compartilham citações de escritores clássicos sem nunca ao menos terem lido uma página do que eles escreveram. Essas pessoas gostam de pagar de intelectuais, verdadeiros pseudo-cults. Dessa forma, elas podem mostrar aos amigos o quanto está “sabendo” das coisas. Fala que leu Nietzsche para os amigos, mas, na verdade, leu apenas cinco páginas de A Gaia Ciência (eu nunca li, apenas conheço superficialmente alguns conceitos postulados pelo filósofo alemão). Ou pior ainda, fazem uma lista de livros cults e clássicos — A Divina Comédia, Ilíada, Os Irmãos Karamazov, Clube da Luta, Assim Falou Zaratustra, Laranja Mecânica —, filmes noir e outros renomados do cinema, e pesquisam resumos na internet (leia-se Wikipédia) para fingirem que são entendedores. Às vezes, para saber o quanto uma pessoa é culta, basta conversar sobre Matrix com ela, filme que vai desde um blockbuster de ação a um longa cheio de referências filosóficas e outras alegorias (vou logo avisando que meu level cult ainda é baixo).
Uma simples solução que posso sugerir é que, ao entrar numa livraria, o leitor passeie por ela, explore outras prateleiras, em vez de simplesmente estacionar na seção dos best-sellers. O leitor deve ser o próprio filtro de suas leituras, dessa forma, ele terá mais chances de conseguir uma leitura prazerosa.
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Numa sociedade que prega e idolatra o hedonismo em quase todas suas formas de cultura, alguém que leia e goste de leitura já é algo a se elogiar, independente de qual seja seus motivos.
Concordo plenamente com o que disse. Me agonia quando ouço alguém dizer “ah, vou ler tal livro. Todo mundo tá lendo, deve ser bom!” Mas, ainda espero um dia em que mais pessoas buscarão livros, ou qualquer outra forma de cultura, pelo simples prazer de apreciá-la, e não para ficar na moda.
Acabei conhecendo o site aleatoriamente, e achei bem interessante, por isso quis deixar comentário em algum dos textos. Parabéns pelo texto e pelo site!
Pois é, César. Muitas pessoas acabam escolhendo suas leituras baseadas no quanto tal livro está sendo extremamente divulgado pela mídia. Enquanto forem leitores em formação, é compreensível seguir essa linha, mas chega uma hora em que o leitor deve começar a trilhar seu próprio caminho e filtrar por ele mesmo os livros que mais lhe agradam.
Muito obrigado pelo seu comentário. Continue acompanhando o site, há conteúdos bem interessantes postados regularmente por aqui.