Resenha – A Torre Negra: A Escolha dos Três
novembro 20, 2013 em Literatura, Resenhas por Luiz Fernando Teodosio
A desvantagem na leitura de uma série literária, quando seus volumes não são lidos consecutivamente, é o esquecimento de alguns fatos anteriores no enredo, o que obriga o leitor a reler um ou mais livros para atualizar a memória. Mas no caso de A Escolha dos Três, segundo volume da série A Torre Negra, Stephen King traz no prefácio um sucinto resumo dos principais acontecimentos de O Pistoleiro, informações suficientes para refrescar a memória do leitor.
Leia AQUI a resenha do primeiro livro da série: “O Pistoleiro“.
Muito diferente do primeiro livro, A Escolha dos Três tem uma narrativa coerente e linear, além de uma linguagem mais palpável. A escrita poética e subjetiva se perdeu um pouco para uma que procura contemplar a clareza. Provavelmente foi uma opção para se adequar ao cenário da história, pois boa parte dela se passa no mundo real. Algumas passagens, no entanto, são narradas no tempo presente sem nenhum motivo aparente (ou não consegui discernir a razão disso).
Enquanto que em O Pistoleiro contávamos apenas com o ponto de vista de Roland, nesta segunda parte, devido à presença de alguns personagens fixos e outros secundários, temos uma leitura mais dinâmica, um adequado aprofundamento nos pensamentos dos personagens e sua relação com a cena em que estão inseridos. Essa alternância dos pontos de vista é normalmente feita por sub-capítulos. Aliás, os capítulos fazem parte de uma estrutura mais organizada, compondo os três arcos da história referentes aos três personagens principais com quem Roland irá se deparar.
O confronto de Roland com o mundo real é um instigante contraste e uma inversão do paradigma nas histórias de Fantasia. Normalmente, é o protagonista do “mundo comum” quem viaja para o “mundo especial”, e desse modo encarnamos esse personagem para conhecermos juntos com ele os mistérios de um novo mundo. Em A Escolha dos Três, é o personagem do “mundo especial” quem atravessa para o “mundo real”. Acompanhamos o seu deslumbramento por nosso mundo, e apenas isso. Claro, para Roland, ele está atravessando de seu “mundo comum” para um “mundo especial”, diferente de nós, leitores. No entanto, há passagens que Roland compara certas características de nosso mundo com as do dele, e assim temos acesso ao “mundo especial” que, para Roland, é seu “mundo comum”. Ao que parece, A Escolha dos Três serviu para fazer o leitor caminhar do seu mundo para o de Roland — como acontece com os personagens que o pistoleiro escolhe —, já que o primeiro volume não é muito explicativo.
Em O Pistoleiro, Roland, sozinho, foi capaz de dizimar uma cidade pequena, e isso demonstra o quanto esse personagem era poderoso. O próprio antagonista, o Homem de Preto, servia para enaltecer ainda mais a força do pistoleiro. Curiosamente, no segundo volume, King apresentou um protagonista mais debilitado, devido às circunstâncias em que se encontrava, incluindo ter alguns dedos arrancados por uma criatura grotesca logo no início da história. Para um pistoleiro, a perda de alguns dedos numa das mãos acarretaria um decréscimo de suas habilidades. Por isso, Roland se depara com obstáculos mais difíceis do que poderiam ser caso estivesse em bom estado, e contando outras desvantagens físicas pelas quais ele passa ao longo da história, sua imagem, por não apresentar tamanha força, torna-se um pouco mais humana.
Não sei se é uma característica dominante na literatura do King, mas neste e em outros livros dele reparei que o início da história sempre tem um ritmo alucinante ou que gera alguma curiosidade forte; o meio é bem arrastado; e o final traz de volta o dobro do ritmo acelerado que se constata no início do livro.
Se em O Pistoleiro, o final da leitura dá impressão de que iremos contemplar o início de uma história, em A Escolha dos Três, o final da leitura nos indica o início de uma saga.
Leia a resenha do terceiro volume (As Terras Desvatadas) AQUI.
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Um dos meus livros preferidos da série.